Por Rafael D´Alessandro, CEO da iblue Consulting
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) generativa tem ganhado destaque como um dos avanços tecnológicos mais promissores e transformadores. No entanto, será que estamos prontos para absorver o verdadeiro impacto que essa tecnologia pode gerar?
Com o poder de transformar desde o atendimento ao cliente até o desenvolvimento de software, a IA generativa não é apenas uma ferramenta de automação — é uma reconfiguração completa de como as empresas funcionam e geram valor.
O relatório “The Economic Potential of Generative AI: The Next Productivity Frontier” traz dados contundentes: a IA generativa pode adicionar entre $2,6 trilhões a $4,4 trilhões anualmente à economia global, abrangendo uma vasta gama de indústrias e funções. Isso, por si só, já é um indicativo de sua relevância no cenário empresarial. A IA tradicional já tinha seu impacto claro, mas a capacidade de gerar conteúdo novo e aprimorar processos complexos marca uma virada de jogo.
Entretanto, devemos questionar: todas as indústrias estão realmente preparadas para essa transformação? A resposta é complexa. Algumas indústrias, como bancos, alta tecnologia e ciências da vida, estão mais bem posicionadas para colher os frutos da IA generativa, com um impacto previsto de $200 bilhões a $660 bilhões em valor potencial anual. No setor bancário, por exemplo, a IA pode automatizar tarefas como o gerenciamento de riscos e a personalização de ofertas aos clientes. Isso significa que as instituições financeiras que se adaptarem rapidamente estarão à frente, oferecendo melhores serviços com custos menores.
Mas, será que essa transformação é aplicável de forma universal? Setores como a agricultura e a construção verão um impacto muito mais modesto. O relatório sugere que essas indústrias, dependentes de atividades físicas e trabalho manual, terão menos a ganhar com a IA generativa. A criação de valor em funções mais automatizáveis, como operações de clientes, marketing e vendas, representa cerca de 75% do impacto econômico total da IA. Isso levanta uma questão importante: se a IA beneficia majoritariamente setores que já são orientados por dados e automação, o que será necessário para que indústrias menos digitais alcancem essa produtividade?
Do ponto de vista da produtividade do trabalho, a IA generativa também promete transformações substanciais. Atualmente, estima-se que entre 60 a 70% do tempo dos trabalhadores seja gasto em atividades automatizáveis. A IA pode, em tese, libertar esse tempo para tarefas de maior valor agregado. No entanto, aqui devemos fazer uma pausa para reflexão: a transição de atividades humanas para automação realmente resultará em aumento de produtividade? Ou enfrentaremos um período de adaptação em que as empresas terão que investir pesadamente na requalificação de trabalhadores e na remodelação de processos? A adoção em massa da IA pode levar entre 2030 e 2060, sugerindo que a aceleração da transformação não ocorrerá de forma linear.
Ainda assim, os benefícios potenciais são inegáveis. A engenharia de software, por exemplo, pode experimentar uma redução de até 45% no tempo de desenvolvimento graças à IA. Aqui, a IA se posiciona não como substituta, mas como uma colaboradora, assistindo os engenheiros com geração de código, testes automatizados e análise de erros. Isso abre novas oportunidades para o desenvolvimento mais ágil e eficaz de produtos.
Outro ponto que merece atenção é o impacto da IA no futuro do trabalho. A possibilidade de automatizar uma grande parte das atividades laborais levanta desafios, especialmente em relação à necessidade de desenvolver novas habilidades. Não é apenas sobre cortar custos, mas sim sobre como as empresas apoiarão seus colaboradores nessa transição inevitável. A produtividade do trabalho poderá crescer de 0,1% a 0,6% ao ano até 2040, mas isso depende fortemente de investimentos em educação e requalificação da força de trabalho.
Por fim, o relatório acende um alerta importante: apesar de todo o entusiasmo em torno da IA generativa, ainda há barreiras significativas. O investimento em infraestrutura tecnológica e a gestão dos riscos inerentes à IA (como privacidade e segurança) serão essenciais para que o potencial dessa tecnologia seja plenamente realizado.
Em última análise, estamos diante de uma revolução silenciosa, impulsionada por uma tecnologia com imenso potencial. Mas a verdadeira questão é: seremos capazes de acompanhá-la e aproveitá-la de forma responsável e estratégica? As empresas que responderem “sim” podem estar moldando o futuro da produtividade global.